QUEM NO PORVIR ME LER
Quem no porvir me ler, sempre ao cair do dia,
Quem meus versos do sono ou cinzas resgatar,
Para o seu sentido reavivar, para descortinar
Como nos homens de hoje a esperança investia,
Saiba com que alegria e com que ânsia acesa
Me lancei entre os prantos, as revoltas, os clamores,
Ao combate altivo e vigoroso das dores,
Para se extrair o amor, como se agarra a presa.
Os meus olhos febris, os meus nervos eu amo
O sangue que me anima, as veias do meu torso;
Amo o homem e o mundo e adoro a força
Que minha força dá e toma ao universo e ao ser
humano.
Pois viver é tomar e doar com prazer.
São meus pares os que se exaltam o bastante
Para que eu mesmo fique ávido e arquejante
Diante da vida intensa e do seu rubro saber.
Momentos de queda e de ascensão – todos se
confundem,
Transformados na brasa que é esta vida;
Importa que o desejo esteja de partida;
Até à morte, até ao despertar da aurora.
Aquele que descobre é um cérebro em contacto
Com essa fervilhante e grande humanidade;
Espírito que emerge em plena imensidade;
Será preciso amar, p’ra descobrir de facto.
Uma grande ternura inspira a rude sabedoria.
E esta exalta a força e a beleza dos mundos.
A adivinhar razões e motivos profundos;
Ó vós que me lereis sempre ao cair do dia,
Compreendereis agora o meu verso desconcertante?
É que no tempo vosso alguém muito arrebatado
A infalível verdade haverá extraído,
Bloco claro, p’ra aí fundar a harmonia universalizante.
Émile Verhaeren
de quem é a tradução? obrigada!
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