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quarta-feira, 20 de abril de 2011

QUEM NO PORVIR ME LER por Émile Verhaeren - ESPIRITUALIDADE





QUEM NO PORVIR ME LER

Quem no porvir me ler, sempre ao cair do dia,
Quem meus versos do sono ou cinzas resgatar,
Para o seu sentido reavivar, para descortinar
Como nos homens de hoje a esperança investia,

Saiba com que alegria e com que ânsia acesa
Me lancei entre os prantos, as revoltas, os clamores,
Ao combate altivo e vigoroso das dores,
Para se extrair o amor, como se agarra a presa.

Os meus olhos febris, os meus nervos eu amo
O sangue que me anima, as veias do meu torso;
Amo o homem e o mundo e adoro a força
Que minha força dá e toma ao universo e ao ser
                      humano.

Pois viver é tomar e doar com prazer.
São meus pares os que se exaltam o bastante
Para que eu mesmo fique ávido e arquejante
Diante da vida intensa e do seu rubro saber.

Momentos de queda e de ascensão – todos se
                       confundem,
Transformados na brasa que é esta vida;
Importa que o desejo esteja de partida;
Até à morte, até ao despertar da aurora.

Aquele que descobre é um cérebro em contacto
Com essa fervilhante e grande humanidade;
Espírito que emerge em plena imensidade;
Será preciso amar, p’ra descobrir de facto.

Uma grande ternura inspira a rude sabedoria.
E esta exalta a força e a beleza dos mundos.
A adivinhar razões e motivos profundos;
Ó vós que me lereis sempre ao cair do dia,

Compreendereis agora o meu verso desconcertante?
É que no tempo vosso alguém muito arrebatado
A infalível verdade haverá extraído,
Bloco claro, p’ra aí fundar a harmonia universalizante.

Émile Verhaeren


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